Fronteiras entre as galáxias: Revelando uma nova dimensão

Visualização do manto de gás que se espalha da galáxia estudada pela equipe, indo muito além das "fronteiras" da própria galáxia.

Por muito tempo, a imensidão das galáxias era um fato conhecido, mas suas dimensões exatas ainda escapavam à nossa compreensão. Recentemente, novos estudos indicam que as galáxias podem ser ainda maiores do que os cientistas haviam calculado. A fronteira entre as galáxias não é tão delimitada quanto imaginávamos, sendo muito mais fluida, com cada galáxia se expandindo e ocupando uma parte do que se acreditava ser o vazio espaço intergaláctico.

A descoberta revolucionária

Nikole Nielsen e sua equipe, das universidades da Califórnia de San Diego (EUA) e Swinburne (Austrália), fizeram uma descoberta impressionante ao estudarem o gás que envolve as galáxias, conhecido como meio circumgaláctico. Esse halo de gás, que circunda o disco estelar das galáxias, representa cerca de 70% da sua massa total (excluindo a matéria escura, caso ela exista).

Historicamente, a análise desse gás era limitada porque só era possível observá-lo com base na luz de objetos de fundo, como quasares, cujas emissões de luz são absorvidas pelo gás. Essa técnica, entretanto, fornecia apenas uma visão limitada, como se estivéssemos olhando através de um tubo estreito de luz.

Visualizando o meio circumgaláctico

Agora, graças a novas técnicas de imagem profunda, astrônomos conseguiram mapear pela primeira vez uma vasta nuvem de gás em torno de uma galáxia. Essa descoberta foi possível graças a uma explosão estelar massiva ocorrida na galáxia IRAS 08339+6517, localizada a 270 milhões de anos-luz da Terra. As explosões estelares lançam grandes quantidades de gás e poeira para o espaço, e, ao analisar essa distribuição, os cientistas conseguiram rastrear o meio circumgaláctico até impressionantes 100.000 anos-luz de distância do centro galáctico.

Isso mostrou que as fronteiras das galáxias não são delimitadas por um vazio, mas por halos gasosos que se estendem muito além do disco galáctico visível, o que redefine nossa compreensão sobre a verdadeira dimensão das galáxias.

Onde uma galáxia termina e outra começa?

Para ter uma ideia do quão grande é essa nuvem de gás, considere que o disco visível de uma galáxia, a parte iluminada pelas estrelas, tem apenas 7.800 anos-luz de diâmetro. Ou seja, o meio circumgaláctico se estende muito além dessa faixa, criando uma zona de transição que se conecta ao espaço profundo e, eventualmente, à rede cósmica – a teia de galáxias interconectadas que compõem o universo.

Conexões cósmicas inesperadas

A equipe de Nielsen observou que as nuvens de gás que formam o meio circumgaláctico não são isoladas. Elas estão fisicamente conectadas ao oxigênio e hidrogênio que circulam no centro da galáxia e seguem em direção ao espaço profundo. "Agora estamos vendo onde a influência da galáxia termina e como ela se conecta ao que está ao seu redor", explicou Nielsen. "Essas são fronteiras difusas, mas elas existem."

Uma nova peça no quebra-cabeça da evolução galáctica

Esta pesquisa é um passo importante para entender melhor como as galáxias evoluem. O estudo do meio circumgaláctico oferece uma nova perspectiva sobre questões centrais da astronomia, como de onde as galáxias obtêm seu gás, como processam esse material e para onde ele vai após ser utilizado.

Esse conhecimento nos ajuda a compreender melhor a evolução galáctica e como o gás, um dos principais componentes na formação de estrelas e planetas, circula entre as galáxias e o espaço intergaláctico.


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Créditos:

  • Artigo: An emission map of the disk-circumgalactic medium transition in starburst IRAS 08339+6517
  • Autores: Nikole M. Nielsen, Deanne B. Fisher, Glenn G. Kacprzak, John Chisholm, D. Christopher Martin, Bronwyn Reichardt Chu, Karin M. Sandstrom, Ryan J. Rickards Vaught
  • Publicado em: Nature Astronomy
  • DOI: 10.1038/s41550-024-02365-x
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