Impactos das Mudanças Climáticas na Amazônia: A Realidade das Famílias Ilhadas pelo Fogo e pela Seca
O fogo implacável e a seca extrema têm devastado a Amazônia, impactando diretamente a vida de famílias que dependem da floresta para sua sobrevivência. Na Estação Ecológica (Esec) Soldado da Borracha, em Rondônia, e no lago Carapanatuba, no sul do Amazonas, a crise climática cobra seu preço. Famílias estão isoladas, cercadas pelas chamas e pelo desaparecimento da água.
A Situação de Roberto e Ana: Fogo à Porta
O casal Roberto Anacleto e Ana Bilenq na janela da casa de seu sítio na Estação Ecológica Soldado da Borracha, em Rondônia |
Roberto Anacleto, 56, e Ana Bilenq, 52, vivem a realidade dura do fogo incontrolável que consome as terras ao redor de sua casa na Esec Soldado da Borracha. Eles enfrentam o desafio de combater as chamas que se aproximam a apenas 15 metros da porta de sua casa. A floresta ao redor queima há semanas, e a sobrevivência depende de ações rápidas e improvisadas, como o aceiro que construíram às pressas.
- Localização: Esec Soldado da Borracha, Rondônia, a 70 km de Cujubim e 220 km da capital, Porto Velho.
- Desafios: Cercados pelo fogo e pela fumaça tóxica, o casal se vê ilhado, com a saúde debilitada pela inalação constante de fumaça.
- Situação agrária: Roberto e Ana são pequenos agricultores, diferentes dos grandes invasores e grileiros que destroem a reserva para criar pastos de gado.
O Desaparecimento do Lago Carapanatuba
No sul do Amazonas, a crise hídrica tem afetado severamente a vida de Damião da Conceição, 54, e Edilene Alves, 49, que vivem na comunidade do lago Carapanatuba. Com a seca extrema de 2024, o nível do lago e dos igarapés caiu drasticamente, tornando o percurso até a cidade de Humaitá, que antes levava 40 minutos, agora uma travessia de quatro horas.
- Problema hídrico: O volume do lago chegou a 20 cm, e barqueiros locais preveem que, em poucos dias, poderá atingir 10 cm, tornando o trecho completamente intransitável.
- Situação de emergência: O pai de Edilene, Antônio Ferreira, 74, precisa de atendimento médico urgente, mas o isolamento torna o transporte extremamente difícil.
A Amacro: Fronteira da Devastação
Porto Velho, Cujubim e Humaitá fazem parte da Amacro, uma área que originalmente seria um polo de desenvolvimento econômico, mas que se tornou uma das principais fronteiras de desmatamento da Amazônia.
- Impacto no desmatamento: Em 2022, a Amacro concentrou 36% do desmatamento na Amazônia Legal, agravando a crise climática na região e promovendo ondas de fumaça tóxica que cobrem as cidades por semanas.
- Queimadas descontroladas: As áreas protegidas, como a Esec Soldado da Borracha, estão sendo invadidas por grileiros e grandes criadores de gado, que usam o fogo como ferramenta para expandir suas posses.
A Luta pela Sobrevivência
As famílias da região, muitas delas pequenos posseiros, estão cercadas pela destruição. Elas enfrentam tanto o fogo quanto a seca, na esperança de que a próxima estação de chuvas, que usualmente começa em novembro, traga algum alívio.
- Perdas na agricultura: Roberto lamenta a perda de suas plantações: "O café que plantei está morrendo, a banana e o mamão sofrem com a falta de chuva. A melancia que plantei morreu toda."
- Impacto na saúde: A inalação constante de fumaça está afetando gravemente a saúde dos moradores, como Ana descreve: "Para dormir, temos que deixar tudo aberto, senão morremos sufocados pela fumaça."
A Crise Hídrica no Lago Carapanatuba
A crise climática no lago Carapanatuba é marcada pela seca severa que vem esvaziando o lago e isolando as comunidades ribeirinhas.
- Jacarés dominam o cenário: A baixa profundidade da água tornou o lago e os igarapés perigosos, com jacarés-açu, gigantes da espécie, dominando a região.
- Vida comunitária: Apesar das dificuldades, as famílias da região ainda dependem da coleta de castanha, da pesca e da produção de farinha de mandioca para sobreviver, enquanto enfrentam a devastação da floresta e o colapso ecológico.
Esse artigo ilustra como as mudanças climáticas, exacerbadas pelo desmatamento e pela invasão de terras, afetam diretamente as populações que dependem da Amazônia para viver. A crise humanitária que emerge dessa devastação não é apenas ambiental, mas social e econômica, refletindo o alto preço pago por essas comunidades.
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