Antártica Está 'Ficando Verde' em Ritmo Acelerado, Alertam Cientistas

Aqui está a imagem destacando a transformação da paisagem antártica devido às mudanças climáticas, mostrando o contraste entre o terreno gelado e as manchas verdes de musgo. Ela capta a beleza e a transformação preocupante do ambiente antártico.

Por Roberto Peixoto, g1
04/10/2024

A Antártica, o continente mais frio e isolado do mundo, está passando por uma transformação inesperada. A paisagem branca e congelada, que por séculos definiu a região, está sendo substituída por manchas verdes de musgo. Cientistas alertam que este "verdejamento" está ocorrendo em um ritmo acelerado e sem precedentes, impulsionado pelo aquecimento global.

Nas últimas quatro décadas, a área coberta por vegetação aumentou drasticamente, passando de menos de um quilômetro quadrado em 1986 para quase 12 quilômetros quadrados em 2021, de acordo com um estudo das universidades de Exeter, Hertfordshire e o British Antarctic Survey, publicado na Nature Geoscience.

Essa mudança, além de ser um sinal preocupante das mudanças climáticas, destaca o quanto até as regiões mais extremas do planeta estão vulneráveis a esse fenômeno global.


Aceleração Dramática no "Verdejamento" da Antártica

Entre 2016 e 2021, o crescimento da vegetação no continente acelerou de forma significativa, com uma expansão anual de mais de 400 mil metros quadrados. Esta mudança abrupta é resultado direto do rápido aquecimento da região polar, que está aquecendo a uma taxa muito mais rápida do que a média global.

As condições climáticas extremas que antes limitavam o crescimento das plantas estão sendo substituídas por períodos mais longos de temperaturas mais amenas. Isso tem permitido que ecossistemas dominados por musgos prosperem em áreas antes cobertas apenas por gelo.


Consequências do Degelo Antártico

Enquanto a Antártica fica mais "verde", seu gelo marinho está diminuindo. Estimativas recentes do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA (NSIDC) mostram que o continente atingiu seu segundo menor pico de gelo marinho em 46 anos de monitoramento. Em 2024, o gelo cobria uma área de 17,16 milhões de quilômetros quadrados, apenas um pouco acima do recorde de mínima estabelecido em 2023.

"O declínio acentuado do gelo marinho nos últimos dois anos reflete os efeitos de um oceano excepcionalmente quente sobre o clima antártico," alerta o pesquisador Ted Scambos, do Instituto Cooperativo de Pesquisas em Ciências Ambientais (CIRES).

Essa diminuição do gelo marinho, que antes refletia a luz solar de volta para o espaço, está permitindo que o calor seja absorvido pela Terra, acelerando ainda mais o aquecimento global.


Impacto no Ecossistema e Espécies Invasoras

À medida que o "verdejamento" da Antártica avança, há uma preocupação crescente sobre a introdução de espécies invasoras, trazidas por cientistas, turistas e visitantes. O solo antártico, embora ainda pobre, está começando a ganhar matéria orgânica, o que pode abrir caminho para a chegada de outras plantas e, eventualmente, até animais.

"Esse ecossistema, que antes parecia intocado, está agora vulnerável a mudanças que podem alterar sua composição de forma irreversível," explica Thomas Roland, da Universidade de Exeter.


Implicações Globais

As mudanças na Antártica não são apenas um problema local. O gelo marinho desempenha um papel crucial no equilíbrio climático do planeta. Seu declínio pode intensificar eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas e tempestades, impactando regiões distantes.

Francyne Elias-Piera, especialista em Ciências Ambientais, explica: “O gelo marinho reflete a luz solar e ajuda a manter o planeta mais frio. Com seu derretimento, mais calor é absorvido pela Terra, acelerando o aquecimento global.”


O Que Está Por Vir?

A Antártica, com suas paisagens brancas, está mudando mais rápido do que os cientistas imaginavam. O "verdejamento" do continente é um sinal alarmante de que estamos ultrapassando limites que podem ter consequências devastadoras para o planeta. As temperaturas globais continuam subindo, e até mesmo o continente mais gelado do mundo está sentindo os efeitos.

O futuro da Antártica – e do clima global – dependerá das ações tomadas agora. É fundamental que medidas mais firmes sejam adotadas para mitigar os impactos das mudanças climáticas.


Destaques da Reportagem

  • Verdejamento acelerado: A área coberta por vegetação na Antártica passou de menos de 1 km² para quase 12 km² entre 1986 e 2021.
  • Aquecimento mais rápido: A Antártica está aquecendo mais rapidamente do que a média global, com impactos severos no gelo marinho e ecossistemas locais.
  • Espécies invasoras: O crescimento da vegetação e o aumento da matéria orgânica no solo podem facilitar a introdução de espécies invasoras.
  • Impacto global: A diminuição do gelo marinho pode aumentar os eventos climáticos extremos em todo o mundo.

Principais Tags

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Créditos: Reportagem por Roberto Peixoto, g1

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