Bancos Investiram US$ 395 Bilhões em Setores Que Impulsionam a Destruição de Florestas Tropicais
Brasil lidera o financiamento global de commodities com risco de desmatamento, revelando o impacto devastador no meio ambiente e nos direitos humanos.
Por Cristiane Prizibisczki – 16 de outubro de 2024
Em um cenário global de devastação ambiental crescente, os números são alarmantes. Bancos ao redor do mundo financiaram um impressionante total de US$ 395 bilhões para setores que impulsionam a destruição de florestas tropicais e a violação de direitos humanos. O Brasil, um dos principais protagonistas dessa realidade, é responsável por 72% do crédito mundial destinado à produção e processamento de commodities com risco de desmatamento. O impacto desse financiamento sobre os biomas brasileiros e suas populações é gigantesco, revelando um sistema financeiro que ainda precisa urgentemente rever suas práticas.
O Papel Devastador dos Bancos no Desmatamento Global
Dois estudos divulgados pela Coalizão Florestas e Finanças nesta quarta-feira, 16 de outubro de 2024, expuseram a conexão direta entre grandes instituições financeiras e a destruição de florestas tropicais em regiões como América Latina, Sudeste Asiático, e África Central e Ocidental. O relatório "Financiando o Colapso da Biodiversidade" destacou que, entre janeiro de 2016 e junho de 2024, mais de US$ 395 bilhões foram destinados a empresas ligadas ao desmatamento e à exploração predatória de recursos naturais.
A pesquisa focou em seis setores de commodities de alto risco: carne bovina, óleo de palma, celulose e papel, borracha, soja e madeira. Esses setores são responsáveis por uma vasta destruição ambiental, impactando diretamente a biodiversidade e exacerbando as mudanças climáticas. Para os especialistas, o volume de recursos injetado em empresas que atuam nessas áreas é um claro sinal de que o sistema financeiro global ainda não internalizou práticas efetivas de sustentabilidade.
Brasil: Líder Global no Financiamento de Commodities com Risco de Desmatamento
O Brasil desempenha um papel central nesse cenário sombrio. De acordo com a Coalizão Florestas e Finanças, os bancos brasileiros foram responsáveis por 72% do crédito mundial destinado à produção e ao processamento primário das commodities com maior risco de desmatamento. Entre 2016 e junho de 2024, as instituições financeiras do país destinaram US$ 188 bilhões a esses setores. Apenas no período recente de 18 meses, entre janeiro de 2023 e junho de 2024, os três maiores bancos brasileiros – Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco – injetaram US$ 35 bilhões nesses setores, com um foco maior na soja e carne bovina.
Essa dependência do capital financeiro para sustentar atividades de alto risco ambiental coloca o Brasil como um dos principais protagonistas globais na destruição de florestas tropicais. Enquanto o país avança na direção de se tornar uma potência agrícola, o preço ambiental e social pago por essas práticas é devastador.
Sustentabilidade Falha: O Setor Financeiro Ainda Precisa Evoluir
Embora muitas das maiores instituições financeiras do mundo tenham aderido a iniciativas voluntárias de sustentabilidade, como os Princípios para a Responsabilidade Bancária (UNPRB) e a Aliança Bancária por Zero Emissões Líquidas (NZBA), a Coalizão alerta que essas medidas são insuficientes para frear o desmatamento. Mais da metade dos 30 maiores bancos envolvidos no financiamento de desmatamento fazem parte de pelo menos uma dessas iniciativas, mas seus compromissos de sustentabilidade não estão sendo traduzidos em ações concretas.
"Esses bancos estão falhando em evitar que o capital continue alimentando a destruição ambiental e as violações de direitos humanos", afirma Tarcísio Feitosa, articulador da Coalizão Florestas e Finanças no Brasil. Ele destaca que regulamentações financeiras mais rígidas e a responsabilização dos financiadores são essenciais para que o setor financeiro contribua para a preservação ambiental.
A Coalizão também criticou os sistemas de certificação, como o Forest Stewardship Council (FSC) e a Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO), que, segundo o relatório, não conseguiram evitar o desmatamento nem proteger adequadamente os direitos humanos.
Mudança Urgente nas Regras do Jogo
Para Marcel Gomes, secretário executivo da ONG Repórter Brasil, a solução passa por maior transparência e regulamentações mais rigorosas: "Sem mudanças estruturais, a destruição dos biomas e as violações de direitos humanos continuarão. A governança das cadeias produtivas de commodities ainda é frágil, e o setor financeiro precisa avançar em sua transparência para que suas políticas de sustentabilidade sejam efetivamente escrutinadas."
O Brasil, com seus biomas ricos e biodiversidade única, está em uma encruzilhada. De um lado, a pressão por crescimento econômico e expansão agrícola; de outro, a necessidade de preservar seus recursos naturais e proteger as populações locais.
Conclusão
Os relatórios divulgados pela Coalizão Florestas e Finanças são um chamado urgente para ação. O setor financeiro global, especialmente no Brasil, deve repensar suas práticas de financiamento e adotar políticas rigorosas de sustentabilidade para evitar que o capital continue impulsionando a destruição das florestas tropicais e a violação de direitos humanos. Somente com regulamentações mais fortes e uma verdadeira responsabilização será possível proteger o meio ambiente e as futuras gerações.
Destaques:
- US$ 395 bilhões investidos em setores que impulsionam o desmatamento global.
- Brasil é responsável por 72% do crédito mundial destinado à produção de commodities de risco.
- Apenas os três maiores bancos brasileiros injetaram US$ 35 bilhões em setores de soja e carne bovina entre 2023 e 2024.
- Iniciativas voluntárias de sustentabilidade falharam em prevenir a destruição ambiental.
Tabela de Financiamentos dos Bancos Brasileiros (2016 - 2024)
Banco | Valor Investido (US$) | Setores Principais |
---|---|---|
Banco do Brasil | 15 bilhões | Soja e Carne Bovina |
Bradesco | 12 bilhões | Soja e Madeira |
Itaú Unibanco | 8 bilhões | Carne Bovina |
Créditos: Matéria originalmente escrita por Cristiane Prizibisczki, adaptada e ampliada para 'Grandes Inovações Tecnológicas e Meio Ambiente'.
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