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Diplomacia Brasileira em Xeque: Entre a Tradição do Equilíbrio e a Ousadia de Lula no Conflito Israel-Palestina

Horizontes do Desenvolvimento - Inovação, Política e Justiça Social

Reportagem Especial

Diplomacia Brasileira em Xeque: Entre a Tradição do Equilíbrio e a Ousadia de Lula no Conflito Israel-Palestina

Análise aprofundada da recente mudança na política externa brasileira, que oscila entre a busca por protagonismo global e o risco de isolamento diplomático.

Repórter: Fabiano C Prometi Editor-Chefe: Fabiano C Prometi

15 de junho de 2025 - A política externa brasileira, historicamente pautada pelo pragmatismo e pela busca de uma posição de equilíbrio, vive um momento de inflexão e intenso debate. A recente e contundente postura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao conflito Israel-Palestina tem gerado uma onda de reações globais, colocando o Brasil no centro de uma das mais complexas e sensíveis questões geopolíticas da atualidade. Este artigo analisa a gênese dessa nova abordagem, suas implicações e os desafios que se impõem à diplomacia do país em sua almejada projeção como líder global.


Do Pragmatismo Histórico à Crítica Aberta: A Evolução da Posição Brasileira

A tradição diplomática brasileira no que tange ao Oriente Médio sempre foi marcada pela "política de equidistância". Desde a participação decisiva na criação do Estado de Israel em 1947, com Osvaldo Aranha na presidência da Assembleia Geral da ONU, o Itamaraty buscou manter um diálogo aberto e isento com ambos os lados do conflito. Essa postura, consolidada durante os governos militares e aprofundada nos anos 1970 em função da crise do petróleo, visava resguardar os interesses nacionais e garantir ao Brasil um papel de mediador confiável.

Contudo, o terceiro mandato de Lula sinaliza uma mudança significativa nesse paradigma. O Brasil tem adotado um tom cada vez mais crítico às ações militares de Israel na Faixa de Gaza, culminando na controversa declaração do presidente, que comparou a situação humanitária no enclave palestino ao Holocausto. A fala, proferida durante uma viagem à Etiópia em fevereiro de 2024, desencadeou a mais grave crise diplomática entre Brasil e Israel em décadas.

[Imagem: Presidente Lula ao lado do chanceler Mauro Vieira em reunião no Palácio do Itamaraty. Legenda: O governo Lula tem defendido a solução de dois Estados e um cessar-fogo imediato em Gaza. Fonte: Ricardo Stuckert/PR.]

A Crise Diplomática: "Persona Non Grata" e as Consequências da Retórica Presidencial

A reação de Israel foi imediata e dura. O governo de Benjamin Netanyahu declarou o presidente Lula persona non grata, e o chanceler israelense, Israel Katz, convocou o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, para uma reprimenda pública em um local de forte simbolismo, o memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. O Itamaraty considerou o ato "inaceitável" e, em resposta, chamou seu embaixador de volta a Brasília para consultas, um gesto de clara insatisfação diplomática.

A crise escalou e gerou uma polarização no debate público brasileiro. Enquanto setores da oposição e parte da comunidade judaica no Brasil criticaram duramente o que consideraram uma "banalização do Holocausto", movimentos sociais, intelectuais e partidos de esquerda defenderam a coragem de Lula em denunciar o que classificam como um "genocídio" do povo palestino.

Análise de Especialistas: Liderança Global ou Aventura Diplomática?

Para aprofundar a análise, "Horizontes do Desenvolvimento" consultou diferentes vozes do campo das relações internacionais.

Segundo Guilherme Casarões, professor da FGV e especialista em política externa, a fala de Lula, embora tenha gerado uma crise, também posicionou o Brasil como uma voz dissonante e de liderança no Sul Global. "Lula buscou usar o capital político do Brasil para forçar um debate que muitos líderes ocidentais evitavam. É uma aposta de alto risco, mas que reforça a imagem de um Brasil autônomo e defensor dos direitos humanos", afirma Casarões.

Por outro lado, há quem veja na nova postura um afastamento do pragmatismo que sempre caracterizou o Brasil. Para um diplomata ouvido em condição de anonimato, "a tradição do Itamaraty é a de construir pontes, não de dinamitá-las. Uma retórica inflamada pode isolar o Brasil e diminuir sua capacidade de atuar como mediador eficaz no futuro".

A posição brasileira encontra eco em propostas apresentadas no Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil ocupou a presidência rotativa e defendeu resoluções por um cessar-fogo imediato, embora estas tenham enfrentado vetos. A diplomacia brasileira argumenta que sua posição está alinhada com o direito internacional e com a maioria da comunidade internacional, que expressa crescente preocupação com a crise humanitária em Gaza.

[Gráfico: Votações do Brasil em Resoluções da ONU sobre a Palestina (2003-2024). Legenda: Análise histórica demonstra uma crescente convergência do Brasil com as posições do Grupo Árabe na ONU. Fonte: Elaborado a partir de dados da plataforma da ONU.]

Os Desafios Futuros: Relações Comerciais e a Busca por Protagonismo

O futuro da relação Brasil-Israel permanece incerto. Embora as relações comerciais e de cooperação, especialmente nas áreas de tecnologia e segurança, sejam relevantes, a crise política impõe um obstáculo significativo. O desafio para a diplomacia brasileira será o de navegar essa tensão, mantendo a coerência de sua política externa sem sacrificar interesses estratégicos.

A grande questão que se coloca é se a postura mais assertiva do Brasil se consolidará como um novo pilar de sua política externa, capaz de alçar o país à liderança global que almeja, ou se resultará em um isolamento prejudicial à sua influência no cenário mundial. Os próximos capítulos dessa história serão decisivos para definir o lugar do Brasil na nova ordem geopolítica que se desenha.


Bibliografia


Créditos e Direitos Autorais

  • Reportagem: Fabiano C Prometi
  • Edição: Fabiano C Prometi
  • Equipe Editorial: Horizontes do Desenvolvimento

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