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Guerra dos Minerais Raros: Como Terras Raras e a IA Redesenham a Geopolítica Global

Guerra dos Minerais Raros: Como Terras Raras e a IA Redesenham a Geopolítica Global

Por Fabiano C. Prometi
Editor‑Chefe: Fabiano C. Prometi
Horizontes do Desenvolvimento – Inovação, Política e Justiça Social


1. Introdução: A Nova Diplomacia Mineral

Em 11 de junho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um polêmico acordo com a China que condiciona a entrada de estudantes chineses em universidades americanas ao fornecimento de minerais de terras raras pelos chineses. Ao mesmo tempo, Trump pressionou a Ucrânia a assinar um pacto similar, com o objetivo de garantir aos EUA acesso preferencial a contratos de fornecimento de elementos críticos. Ameaçando retirar apoio militar caso Kiev não cedesse, a iniciativa revela o grau de interdependência entre segurança geopolítica e recursos minerais estratégicos.


2. Terras Raras: O “Petróleo” do Século XXI

Terras raras são um grupo de 17 elementos (incluindo neodímio, praseodímio e lantânio) essenciais para ímãs de alta performance, lasers, catalisadores e semicondutores. Apesar de relativamente abundantes na crosta terrestre, demandam processos complexos de extração e purificação, tecnologias das quais a China detém hoje cerca de 85 % da capacidade global de refino gemsociety.org.

Segundo o U.S. Geological Survey, a produção mundial de óxidos de terras raras atingiu 300 000 t em 2022, com a China responsável por 210 000 t (70 %) desse total, seguida pelos EUA (43 000 t), Austrália (18 000 t) e Birmânia (12 000 t) min-met.com. Já em 2023, o volume global ultrapassou 350 000 t, dos quais 240 000 t foram extraídos pela China — mais de dois terços da produção mundial visualcapitalist.com.


3. A Infraestrutura Física da IA: Data Centers e sua Cadeia Mineral

Embora concebida como “nuvem”, a inteligência artificial repousa sobre uma vasta infraestrutura física, cujo coração são os data centers. Estima‑se que existam cerca de 11 800 data centers em operação no mundo (março 2024), contando desde pequenas instalações regionais até grandes complexos globais brightlio.com. Dentre eles, 992 são classificados como hiperescala — instalações com área superior a 929 m² — e seu número ultrapassou 1 000 já no início de 2024 telecoms.com.

A fabricação de servidores, sistemas de refrigeração, cabeamento e sensores desses centros exige uma miríade de metais e minerais: silício metálico, gálio, germânio, tântalo, cobre, metais do grupo da platina, prata, ouro e, sobretudo, terras raras. Em muitos casos, o peso dos insumos originais pode chegar a até 350 vezes o produto final, devido ao alto grau de pureza exigido pelos componentes eletrônicos.


4. Fome de Energia: O Custo Elétrico da Era Digital

Os data centers consumiram cerca de 460 TWh de eletricidade em 2022 — aproximadamente 2 % do consumo global —, um valor que pode dobrar até 2026, chegando a mais de 1 000 TWh, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA) iaea.org. Nos EUA, já representam 4 % da demanda nacional, projeção que alcançará 6 % em 2026 e 9,1 % em 2030.

O impacto local inclui sobrecargas em redes elétricas, riscos de apagões e elevação de tarifas, gerando protestos de comunidades próximas. Em resposta, gigantes de tecnologia têm apostado em fontes renováveis (solar, eólica) e em projetos de captura de calor residual. Porém, tais soluções também dependem intensamente de minerais críticos: turbinas eólicas podem requerer até 15 vezes mais metais que usinas a gás, e para suprir a demanda dos data centers norte‑americanos até 2030 seriam necessários cerca de 50 milhões de painéis solares.


5. Estudos de Caso e Entrevistas

“SMRs (reatores modulares pequenos) podem ser um divisor de águas para alimentar data centers com energia confiável e limpa”,
destaca Aline des Cloizeaux, Diretora da Divisão de Energia Nuclear da IAEA iaea.org.

No Brasil, o projeto Serra Verde tenta romper a dependência chinesa com produção comercial de terras raras, mas enfrenta preços internacionais baixos e barreiras técnicas e financeiras reuters.com. Nos EUA, iniciativas do Pentágono e investimentos da MP Materials visam reativar a cadeia de refino em Mountain Pass, mas especialistas preveem décadas até alcançar a escala chinesa wsj.com.


6. Implicações Geopolíticas e Perspectivas

A disputa por minerais críticos reflete a transição para uma economia digital e de baixo carbono. O alinhamento entre política externa e segurança mineral — ilustrado pela recente “diplomacia estudantil” americana — marca uma nova fase da rivalidade EUA‑China. Reduzir a vulnerabilidade envolve diversificação de fornecedores, investimentos em tecnologia de reciclagem e desenvolvimento de capacidades domésticas de refino.


7. Conclusão

A expansão acelerada da IA impõe desafios que vão além da inovação tecnológica, atingindo esferas ambientais, sociais e estratégicas. Compreender essa teia complexa é essencial para gestores, empresas e sociedade civil definirem políticas que equilibrem segurança, sustentabilidade e justiça social.


Bibliografia (ABNT)

AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA. Data Centres, Artificial Intelligence and Cryptocurrencies Eye Advanced Nuclear to Meet Growing Power Needs. IAEA Bulletin, 2023. Disponível em: https://www.iea.org/.... Acesso em: 5 jul. 2025.

INFORMAÇÃO GEOLOGICAL SURVEY (USGS). Mineral Commodity Summaries 2023. Reston, VA: USGS, 2023. DOI:10.3133/mcs2023.

SYNERGY RESEARCH GROUP. Report finds hyperscale data centre capacity doubling every four years. 18 abr. 2024. Disponível em: https://www.telecoms.com/.... Acesso em: 5 jul. 2025.

VISUAL CAPITALIST. Visualizing Global Rare Earth Metals Production, 1995–2023. 2024. Disponível em: https://www.visualcapitalist.com/.... Acesso em: 5 jul. 2025.


Créditos e Direitos Autorais

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Repórter: Fabiano C. Prometi
Editor‑Chefe: Fabiano C. Prometi
Horizontes do Desenvolvimento – Inovação, Política e Justiça Social

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