Acordo Mercosul-UE rumo a assinatura: o que está em jogo no torneio de poder e sustentabilidade
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| Lula e Ursula von der Leyen durante anúncio do avanço final do acordo Mercosul–União Europeia, previsto para assinatura em 20 de dezembro. Imagem gerada por Inteligência Artificial (DALL·E) |
Horizontes do Desenvolvimento – Inovação, Política e Justiça Social
Repórter: Fabiano C. Prometi · Editor-Chefe: Fabiano C. Prometi
Data de publicação: 23 de novembro de 2025
Acordo Mercosul-UE rumo a assinatura: o que está em jogo no torneio de poder e sustentabilidade
Brasília / Joanesburgo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo (23) que o tão aguardado acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) será assinado em 20 de dezembro, durante a presidência rotativa brasileira do Mercosul. Agência Brasil+2Jornal do Comércio+2 A declaração foi dada na capital sul-africana, onde Lula participava da cúpula de líderes do G20. Agência Brasil
Este momento representa não apenas uma vitória diplomática para o Brasil e para seus parceiros latino-americanos, mas também um ponto de inflexão nas dinâmicas globais de comércio, soberania econômica, e meio ambiente. A seguir, uma análise aprofundada dos aspectos políticos, econômicos e sociais desse acordo, suas origens, potenciais impactos e desafios.
Origens e trajetória histórica
A gênese das negociações entre Mercosul (formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia remonta a mais de duas décadas. As discussões começaram no fim dos anos 1990, com promessas de integração comercial e cooperação estratégica. No entanto, só em dezembro de 2024, após 25 anos de idas e vindas diplomáticas, os blocos chegaram a um texto final. Agência Brasil+2Serviços e Informações do Brasil+2
O acordo, quando plenamente ratificado, será um dos mais ambiciosos já firmados pelo Mercosul. Conforme informações do Planalto, o texto final contempla 20 capítulos, além de diversos anexos e documentos adicionais. Serviços e Informações do Brasil+1 A dimensão simbólica é tão poderosa quanto a econômica: segundo Lula, trata-se de uma afirmação do multilateralismo, uma resposta ao protecionismo crescente no cenário global. Serviços e Informações do Brasil+1
Principais termos do acordo e lógica econômica
De acordo com declarações oficiais, o tratado envolve cerca de 722 milhões de pessoas e representa aproximadamente US$ 22 trilhões de Produto Interno Bruto (PIB) agregado. Agência Brasil Esses números ressaltam o tamanho estratégico da parceria para ambos os lados.
Do ponto de vista comercial, o plano é que o Mercosul reduza ou elimine tarifas sobre uma grande parte das exportações da UE, enquanto os europeus removerão progressivamente tarifas sobre 92% das exportações do Mercosul ao longo de até dez anos, conforme expectativas colocadas por Lula nas conversas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Reuters+1
Além disso, defensores do acordo argumentam que ele pode modernizar a base industrial do Mercosul, integrando suas cadeias produtivas às europeias, além de reforçar fluxos de investimento estrangeiro direto. Serviços e Informações do Brasil+1 A UE, por sua vez, vê no Mercosul uma fonte confiável de matérias-primas críticas, como o lítio metálico, usado em baterias para a transição energética. Agência Brasil
Resistências políticas e ambientais: os riscos e as tensões
Apesar do otimismo de Lula, o acordo ainda enfrenta resistência significativa. Um dos principais opositores dentro da UE é a França, que expressa preocupações sobre a produção agrícola sul-americana. Agência Brasil+1 Paris exige cláusulas de salvaguarda (“safeguard”) para poder bloquear importações caso haja dano à sua indústria, além de controles robustos para garantir que produtos do Mercosul atendam a normas europeias. Reuters+1
Lula tem reinterpretado a relação comercial como complementar: segundo ele, a agricultura de pequena e média escala no Brasil pode dialogar com a francesa sem conflito. Serviços e Informações do Brasil No entanto, a divergência regulatória permanece séria. Macron, por exemplo, tem criticado o que considera insuficientes os mecanismos ambientais previstos no acordo, sobretudo no que toca a pesticidas proibidos na Europa, mas usados em alguns países do Mercosul. Serviços e Informações do Brasil
Também pesa a questão da ratificação legislativa: o Parlamento Europeu precisa aprovar o tratado com maioria simples (50%+1 dos deputados), enquanto pelo menos 15 dos 27 países da UE devem ratificar, representando pelo menos 65% da população do bloco. Agência Brasil No Mercosul, a implementação será individual por país — ou seja, a entrada em vigor não depende da ratificação simultânea de todos os integrantes. Agência Brasil
Consequências socioeconômicas e ambientais
A concretização deste acordo pode trazer ganhos relevantes para os países sul-americanos: a ampliação de exportações industriais, o aumento da competitividade global e a atração de investimentos serão vetores-chave. Especialistas têm destacado que, para o Brasil, isso significa não apenas diversificar mercados, mas também reduzir dependência geopolítica de atores como a China. Reddit
Por outro lado, há riscos ambientais e sociais palpáveis. Críticos apontam que um aumento na exportação de commodities agrícolas pode estimular desmatamento, pressões sobre comunidades indígenas e práticas agrícolas pouco sustentáveis. Organizações ambientais alertam que, sem mecanismos rigorosos de monitoramento, o tratado pode reforçar padrões predatórios em nome da competitividade. The Guardian
A proposta de cláusulas de salvaguarda proposta pela França abre espaço para uma disputa por regulamentações mais rígidas, mas também pode ganhar contornos protecionistas que limitam o potencial de exportação dos países do Mercosul. Há, ainda, o desafio de assegurar que normas sociais e ambientais sejam vinculantes — não apenas retóricas — nos mecanismos de aplicação.
Perspectivas geopolíticas e justiça social
Para Lula, o acordo representa um momento estratégico para reposicionar o Brasil e o Mercosul no xadrez geopolítico global: segundo ele, este é “o melhor sinal que regiões como a nossa podem dar em face do retorno do unilateralismo e do protecionismo tarifário” (“the best response our regions could offer,” nas palavras traduzidas de declarações à imprensa). Serviços e Informações do Brasil+1
Do ponto de vista da justiça social, a promessa de inclusão dos pequenos e médios agricultores – especialmente no Brasil, com milhões de propriedades rurais modestas – é crucial. Lula tem defendido que o acordo deve favorecer esses produtores, reforçando a complementaridade agrícola entre Mercosul e Europa. Serviços e Informações do Brasil Mas a efetividade desse compromisso depende não só de texto, mas de políticas nacionais de suporte: linhas de crédito, capacitação técnica, certificações e acesso a mercados.
Futuro e riscos de implementação
Se a cerimônia marcada para 20 de dezembro de fato ocorrer, será o ponto de partida para um longo caminho: a assinatura formal não implica vigência automática. Há etapas cruciais:
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Revisão legal e tradução do texto acordado. Serviços e Informações do Brasil
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Ratificação pelos parlamentos dos países-membros de ambos os blocos. Agência Brasil
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Implementação gradual das reduções tarifárias previstas nos primeiros dez anos. Reuters+1
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Monitoramento e fiscalização de cláusulas ambientais e de salvaguarda.
Caso esses passos sejam bem geridos, o tratado pode se consolidar como um modelo de cooperação comercial moderna e sustentável. Se falhar em aspectos regulatórios, corre o risco de replicar velhos desequilíbrios: exportação de commodities, pressões socioambientais e baixa inclusão dos mais vulneráveis.
Conclusão
A previsão de assinatura em 20 de dezembro simboliza uma virada diplomática para o Mercosul sob liderança brasileira. Mas o “acordo do século” – como alguns o denominam – traz consigo tensões históricas e assimetrias de poder: entre interesses agrícolas conservadores da Europa, demandas por salvaguardas ambientais, e as esperanças latino-americanas de crescimento justo e sustentável.
Mais do que um tratado comercial, trata-se de um experimento geopolítico. Se for bem-sucedido, poderá ser um impulso ao multilateralismo, ao desenvolvimento social e à inovação nas cadeias produtivas. Se fracassar, pode exacerbar desigualdades e comprometer a reputação dos blocos como promotores de desenvolvimento equitativo.
Nos próximos meses, o mundo estará de olho – e os cidadãos sul-americanos, especialmente os mais vulneráveis, devem acompanhar com atenção cada passo deste processo.
Bibliografia
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Agência Brasil. “Acordo Mercosul-UE será assinado em 20 de dezembro, diz Lula.” Agência Brasil, 23 nov. 2025. Acesso em 23 nov. 2025.
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Ministério das Relações Exteriores / Planalto. “Lula sobre acordo Mercosul-União Europeia: reforço ao multilateralismo.” Comunicação Social, 7 jun. 2025. Acesso em 23 nov. 2025.
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Ministério das Relações Exteriores / Planalto (en). “Lula expresses optimism about concluding Mercosur-European Union agreement.” 5 jun. 2025. Acesso em 23 nov. 2025.
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Investing.com (Reuters). “Acordo entre União Europeia e Mercosul deve ser assinado em 20 de dezembro, diz chanceler.” 6 nov. 2025. Acesso em 23 nov. 2025.
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Le Monde (via Reuters). “Lula presses Macron on Mercosur trade deal during Paris visit.” 6 jun. 2025. Acesso em 23 nov. 2025.
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Reuters. “EU-Mercosur trade deal still needs work to be acceptable for France, says government.” 19 nov. 2025. Acesso em 23 nov. 2025.
Nota de autoria: Reportagem por Fabiano C. Prometi, para o “Horizontes do Desenvolvimento – Inovação, Política e Justiça Social”. Conteúdo de propriedade do blog “Grandes Inovações Tecnológicas”; reprodução ou divulgação só com autorização prévia da equipe editorial.
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