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Crise Climática e Colapso da Governança Global: O impasse que ameaça o futuro do planeta 🌍



Horizontes do Desenvolvimento – Inovação, Política e Justiça Social
📅 10 de novembro de 2025


Crise Climática e Colapso da Governança Global: O impasse que ameaça o futuro do planeta 🌍

Por Fabiano C. Prometi
Editor-chefe: Fabiano C. Prometi


O debate climático internacional, outrora símbolo de cooperação e esperança em torno de um futuro sustentável, tornou-se o espelho de uma crise mais profunda: o colapso da governança global. Às vésperas da COP-30 em Belém, cresce a percepção de que os fóruns multilaterais, concebidos para coordenar esforços entre as nações, estão sendo corroídos por interesses econômicos, rivalidades geopolíticas e o enfraquecimento das instituições internacionais.

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP), criada em 1995, representou o ápice do ideal de governança multilateral. No entanto, três décadas depois, os resultados concretos são insuficientes diante da urgência climática. O planeta ultrapassou, em 2023, pela primeira vez na história registrada, o limite de 1,5°C de aquecimento global em relação à era pré-industrial (NOAA, 2024). Enquanto isso, as emissões globais de dióxido de carbono atingiram 36,8 bilhões de toneladas em 2024, segundo o Global Carbon Project.

Esses números expõem o paradoxo central: nunca se falou tanto em sustentabilidade, mas nunca se emitiu tanto carbono. Essa dissonância reflete uma crise estrutural na arquitetura da governança internacional — uma estrutura desenhada no pós-Segunda Guerra Mundial, hoje incapaz de lidar com os desafios transnacionais do século XXI.


O fracasso da arquitetura multilateral

A Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências associadas, incluindo a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (UNFCCC), enfrentam crescente descrédito. A lógica da soberania nacional impede decisões vinculantes, e os mecanismos de financiamento climático permanecem reféns da boa vontade dos países ricos.

O Fundo Verde para o Clima, lançado com a promessa de destinar US$ 100 bilhões anuais a países em desenvolvimento, continua longe de atingir sua meta. Em 2024, o montante efetivamente desembolsado foi de apenas US$ 48 bilhões (OCDE, 2025).

As nações do Sul Global, especialmente da América Latina e da África, denunciam o duplo padrão das potências industriais: exigem metas ambiciosas de descarbonização, mas mantêm subsídios bilionários a combustíveis fósseis e impõem barreiras econômicas a produtos de países emergentes sob o pretexto ambiental. Essa contradição é o que o economista indiano Amitav Acharya (2023) define como “a assimetria moral da governança climática”.


O novo cenário geopolítico do clima

O enfrentamento climático tornou-se também um campo de disputa estratégica. De um lado, Estados Unidos, União Europeia e Japão buscam liderar a transição energética por meio de investimentos em tecnologias limpas e controle das cadeias produtivas. De outro, China e Índia defendem o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, argumentando que o fardo histórico das emissões recai sobre o Norte global.

No meio desse tabuleiro, emergem países como o Brasil, a Indonésia e a África do Sul, que tentam conciliar crescimento econômico com conservação ambiental. O Brasil, em particular, volta ao protagonismo internacional ao sediar a COP-30 em Belém — evento que carrega enorme simbolismo político e ambiental.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento na Amazônia caiu 42,5% entre 2023 e 2024, reflexo do retorno das políticas de fiscalização e controle. Ainda assim, o bioma segue sob ameaça, pressionado por garimpo ilegal, agronegócio predatório e infraestrutura sem critérios socioambientais.


Tecnologia, justiça e transição energética

A inovação tecnológica é frequentemente apontada como solução, mas ela sozinha não resolverá a crise. A transição energética — da matriz fóssil para fontes renováveis — exige não apenas ciência, mas justiça social e reestruturação econômica.

As tecnologias de captura de carbono, hidrogênio verde e energia solar de nova geração representam avanços notáveis, mas concentram-se em países ricos e grandes corporações. O risco é que se reproduza o mesmo padrão de desigualdade: “a economia verde como novo extrativismo”, nas palavras da socióloga colombiana Maristella Svampa (2024).

Para o Sul Global, a questão central não é apenas como descarbonizar, mas quem paga a conta dessa transição. O economista brasileiro Ricardo Abramovay (2023) argumenta que “a sustentabilidade só será real quando for economicamente inclusiva e politicamente democrática”.


O espelho da crise: entre o discurso e a ação

O debate climático é, portanto, o reflexo de uma crise civilizatória mais ampla: a incapacidade de articular ação coletiva em um mundo fragmentado. Governos, corporações e cidadãos reconhecem o problema, mas poucos estão dispostos a enfrentar as mudanças estruturais necessárias.

A COP-30 pode representar um ponto de inflexão — ou mais um capítulo da paralisia global. O desafio não é apenas técnico, mas político: reconstruir a confiança na cooperação internacional e redefinir o papel dos Estados na governança planetária.

Se o aquecimento global é um espelho, o que ele nos mostra é que a verdadeira temperatura do planeta não está apenas no termômetro climático, mas na febre moral da humanidade.


Bibliografia (ABNT)

ACHARYA, Amitav. Global Governance in a Multipolar World: Beyond Liberal Internationalism. Oxford: Oxford University Press, 2023.

ABRAMOVAY, Ricardo. Amazônia: por uma economia do conhecimento da natureza. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.

NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration. Global Climate Report – Annual 2024. Washington, D.C.: U.S. Department of Commerce, 2024. Disponível em: https://www.noaa.gov/. Acesso em: 10 nov. 2025.

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Climate Finance Provided and Mobilised by Developed Countries in 2024. Paris: OECD Publishing, 2025. Disponível em: https://www.oecd.org/. Acesso em: 10 nov. 2025.

SVAMPA, Maristella. El Antropoceno desde el Sur: Crisis civilizatoria, transición y justicia ecológica. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2024.


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📜 Reportagem de Fabiano C. Prometi
Edição e revisão: Equipe Editorial – Horizontes do Desenvolvimento
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